Exército afirma que soldado cometeu suicídio em quartel; pais e OAB contestam
Exército alega suicídio de soldado em quartel; família e OAB contestam a versão oficial
Morte Trágica e Circunstâncias Controversas
No dia 30 de julho, Vitor Santos de Sá Regalo, um jovem de 19 anos, perdeu a vida em circunstâncias trágicas no 5º Centro de Geoinformação do Exército, no centro do Rio de Janeiro. Segundo a primeira versão do Exército, Vitor, que atuava como soldado, teria entrado em um surto psicológico após uma discussão por telefone com sua namorada. Nesse estado, ele teria subtraído a arma de um superior, corrido cerca de 15 metros, carregado a pistola e efetuado um disparo contra a própria cabeça.
Entretanto, essa narrativa é contestada pela família de Vitor, que suspeita de um possível homicídio dentro das instalações militares. A namorada do soldado nega ter havido qualquer discussão, e os pais de Vitor relatam que não havia sinais de que ele desejasse tirar a própria vida, acrescentando que o jovem teria mencionado à família um desentendimento com o sargento dono da arma um mês antes do incidente.
Detalhes e Provas Encontradas no Inquérito
O inquérito militar foi instaurado pelo chefe do 5º Cgeo e conduzido pelo capitão Marcelo de Andrade. A arma que causou a morte era de propriedade do terceiro-sargento Yago Proença Gonçalves, superior de Vitor. Em seu depoimento, o sargento relatou que estava acompanhado de dois soldados, incluindo Vitor, quando o jovem repentinamente tomou sua pistola Imbel 9 milímetros do coldre e correu para o pátio do quartel. Proença teria tentado alcançá-lo, mas caiu no trajeto, permitindo que Vitor efetuasse o disparo fatal.
O laudo necroscópico confirmou que o tiro foi disparado a curta distância, encostado à pele, com a trajetória de disparo indo da esquerda para a direita, acertando a parte posterior da cabeça. Testemunhas relataram ter visto Vitor discutindo com a namorada por telefone antes do incidente, mas esses detalhes foram contestados pela própria namorada e pelos pais do soldado.
Suspeitas e Provas Desaparecidas
A desconfiança dos pais de Vitor se agravou após notarem que mensagens de WhatsApp enviadas e recebidas pelo soldado no dia do incidente haviam sido apagadas, assim como todas as fotos do seu perfil no Instagram. Além disso, a conta de Vitor no Instagram permaneceu ativa até o dia seguinte, o que a família considera altamente suspeito.
Durante o sepultamento, realizado em 1º de agosto, os familiares ficaram chocados ao verem que o rosto de Vitor apresentava marcas roxas e machucados no nariz e na boca, indicando que ele poderia ter sido agredido antes do disparo. “Quem se mata não se espanca do jeito que meu filho estava”, declarou a mãe, Letícia Maria dos Santos.
Repercussão e Ações da Família
A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ está auxiliando a família de Vitor. O advogado Paulo Henrique Lima, procurador-geral da Comissão, informou que a família está fragilizada e busca respostas concretas sobre o que realmente aconteceu. A OAB solicitou acesso aos laudos do Exército, mas recebeu como resposta que as análises residuográficas (para identificar resíduos de pólvora e esclarecer o disparo) ainda não haviam sido concluídas e foram encaminhadas para a Polícia Federal.
Posicionamento do Exército e Procedimentos Judiciais
O Exército Brasileiro mantém a investigação em segredo de Justiça e comunicou que está comprometido com a transparência e colaborará com as autoridades competentes. A 1ª Auditoria da Circunscrição Judiciária Militar autorizou a quebra de sigilo telefônico e telemático de Vitor, visando acessar mensagens e registros de atividade nos dias anteriores à sua morte.
Para tentar ajudar a cobrir os custos do sepultamento, a família solicitou apoio ao Exército, mas relata que o reembolso, prometido para 30 dias, foi realizado apenas três meses depois. O Exército também ofereceu a opção de cremar o corpo, mas a família recusou, considerando a possibilidade de uma futura exumação como parte das investigações.
Um Sonho Militar Interrompido e a Dor dos Pais
Vitor era descrito como um jovem motivado e determinado, que sonhava em seguir carreira militar. Seu pai, Diego Regalo, relatou que Vitor via no Exército uma oportunidade de crescer profissionalmente e alcançar orgulho para a família. A mãe, Letícia, recorda com dor as palavras de Vitor, que dizia querer ser um “orgulho para a família”.
O sentimento de indignação e revolta toma conta dos pais, que afirmam: “Querem ‘entubar’ para a gente que meu filho se suicidou. A conta não fecha. O que ocorreu foi um assassinato que o Exército está tentando acobertar.”
Em Busca de Justiça
A investigação ainda está em curso, mas a família, junto com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, continua pressionando para que todas as provas e documentos sejam acessados e que a verdade seja esclarecida. Enquanto aguardam as conclusões oficiais, a dor da perda, misturada à desconfiança nas circunstâncias, tem gerado um enorme desgaste emocional para os pais, que esperam não só respostas, mas também a justiça pela memória de Vitor.